Sunday, April 12, 2009

samba do grande amor.

Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira..


Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador

Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira


=)

(samba do grande amor, francisco buarque de hollanda)

Tuesday, April 07, 2009

observação #1

Na cidade amarela nos filmes, e cinza na vida real, chovia. Estava sozinha. Tinha pressa, mas ainda deitada observou o quarto como quem confere se algo está faltando. A cama baixa, a parede colorida, a TV, o quadro do ex na parede. Mil papéis.


Fez planos para o dia, ainda com sono. Escovou os dentes, lavou o rosto e mecanicamente fitou a parede, esquecendo-se que o espelho não estava mais ali.
Todo o seu francês gasto em dez páginas de fichamentos, as fotocópias, arrumou uma pequena mochila para sair. Às 8 horas, o barulho da máquina indicava que o café estava pronto. Esfregou os olhos, tomou o café de uma só vez.


Sempre ficava nostálgica quando voltava de viagens. Talvez não fosse nostalgia, e sim, algum tipo de subterfúgio. Antecedendo-as, se punha ansiosa e aflita. Era como se o mundo dependesse daquela viagem. Mas nunca dependia, e a sensação ao retornar a casa era a sempre a mesma: realidade.


Ultimamente, corria. Literalmente. Corria com as bolsas, as pastas, as mochilas, e tudo o mais que fosse necessário carregar para uma jornada de mais de oito horas fora de casa. Às vezes ia aos tropeços, derrubada as coisas. Era assim, tudo tão súbito que sua memória não era capaz de guardar o que fazia durante o dia, e ela era obrigada a se perguntar freqüentemente se já tinha feito isso ou aquilo. Nesta correria dos dias que não viu passar, deu para olhar o mundo diferente. Nunca se sentiu tão sozinha e deslocada de tudo. Era a sensação de ser espectadora de sua própria vida. As coisas, o tempo todo em câmera lenta, subplots que desconhecia, a lembrança do acidente de carro ecoando constantemente. “A gente com essa mania de tentar recuperar o tempo que passou, sempre, sempre... -pensou -, a vida aí, e a gente querendo aproveitar o futuro, e reviver o passado. Coisa idiota”.


Cansou de disse-me-disse, mas não prometeu parar de correr. Ainda tinha a lucidez de se prometer apenas o que podia cumprir.