Wednesday, October 15, 2008

amor de longe.

O sol incidia pela única janela do cômodo, e fazia crepitar por vezes o piso velho de tábua de madeira. Em nenhum momento ouviu-se a menina falar. Era uma daquelas tardes de verão em que nada se move, e o calor faz surgir uma onda densa e estática, impossível de sustentar.
Quase duas horas, o cachorro acomodou-se junto à porta aberta para olhar lá fora. Bem distante, vinha um caminhão carregado de latas, cambaleando pela estrada esburacada. As pessoas faziam fila em suas cerquinhas brancas para recebê-lo. Uma vez por semana, o leiteiro aparecia naquela vila que nunca chegava nada. Trazia notícias, contava floreios para as moças. Ao vê-lo se aproximar, um moço alto, magricela, desses com sorriso simpático e humilde, a menina estremeceu por dentro. Fazia uma semana, bordava um lenço para ele. Entregou-o ao rapaz, e junto com o dinheiro do leite, dois passos para trás e um aceno. Não disse uma palavra. O leiteiro esboçou um sorriso em retribuição, e a menina correu para fechar a porta. Suspiro. Mais sete dias.

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