Monday, July 20, 2009

amigo zumbi.

Em um bairro suburbano americano, esposas estonteantes cuidavam da casa e da família. Eram os anos cinqüentas. Entre jardins verdíssimos e cerquinhas brancas, aquela comunidade se assemelhava a qualquer outra vizinha. Mas não, não dentro daquelas casas.

Fazia um dia quente e duas famílias vizinhas resolveram fazer um churrasco. Um típico churrasco americano, os maridos tomando cerveja, falando sobre baseball e a guerra, enquanto as esposas, em vestidos lindíssimos, tomavam seus coolers, trocavam receitas.
O vizinho perguntou ao Sr. Roberson porque ele ainda possuía o zumbi doméstico. O Sr. Roberson sabia que o filho e a esposa eram muito apegados a ele, mas tentou desconversar. O vizinho achou esquisito o Sr. Roberson permitir esse tipo de relacionamento dentro de sua casa. “Zumbis não são confiáveis, são bichos”. – explicou.

Já era noite, e ao chegar em casa, o Sr. Roberson perguntou à esposa porque o zumbi estava sentado em sua poltrona. A Sra. Roberson respondeu que Fido gostava de ficar ali, e aumentou o som.
- Vamos dançar, querido?

Mary Roberson era uma mulher muito bonita. Os cabelos negros perfeitamente presos em um coque contrastavam com sua pele tão lisa e alva. Estava grávida de seu segundo filho, e o marido ainda não havia notado. Ignorava os problemas do dia –a – dia com tarefas e drinks. Era infeliz, mas naquele momento parecia estar se divertindo muito.
O marido olhou com fúria para a mulher. Saiu da sala, e quando voltou, a Sra. Roberson dançava com o zumbi.
- Fido gosta de dançar – disse ela, sorrindo. Venha, Bill!
O marido apontou o controle remoto em direção à coleira do zumbi, e apertou o botão. O zumbi pôs-se a gemer de dor, enquanto a Sra. Roberson tentava acudi-lo.
- Bill! – exclamou indignada.

No dia seguinte, a polícia veio buscar Fido. Quando o menino levantou, o carro que levava o zumbi já ia longe. Timmy gritava pela rua, o zumbi não tinha culpa em ter matado a Sra. Petterson. Era tarde demais.

Naquele dia, o pai resolveu levar o filho à escola. Dirigia um carro antigo azul e estava preocupado.
- Pai, você passou a escola. – disse Timmy com voz triste.
- Ah, sim – disse o pai distraído enquanto estacionava o carro – bem, eu... eu queria te dizer algo. – suspirou – sabe filho, eu.. sei que quando se é criança nós.. fantasiamos algumas coisas, quer dizer.. sentimos coisas. Filho, você precisa se livrar disso.
- Me livrar do quê?
- Sentimentos! Sentimentos não servem pra nada! O que importa é estar vivo, me entende?
- Ahm. – o menino resmungou sem entender.
- Bem.. – sorriu, ignorando-o – É por isso que lhe trouxe um presente. Tome.
O menino apanhou a caixa branca com laço azul e a abriu lentamente, sem imaginar seu conteúdo.
- Uma arma. – disse o menino, confuso.
-sim, uma arma – confirmou o pai
Sei que não devia comprá-la antes do seu aniversário de doze anos. Mas achei que era a hora. Você gostou? Não é bonita? Carregue sempre com você.

O menino colocou a arma na mochila. Não devia ter dez anos, mas já era capaz de compreender tudo. Zumbis só morrem com tiros. Com uma expressão ainda incrédula, abriu a porta do carro.
Ao fechá-la, o pai disse:
- Ah, não se esqueça das balas! - disse sorrindo ao jogar um pacote.

E a acelerou o carro.

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Sobre o filme Fido (2006) de Andrew Currie.

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